Ex-deputada sai do PSD, que "pactua" com a extrema-direita

“Os princípios fundamentais de um partido devem ser uma âncora identitária (…) uma âncora que deixou de existir no PSD”. Estas são as palavras de Rubina Berardo, que foi deputada entre 2015 e 2019 e que anunciou a sua desfiliação dos sociais-democratas num artigo de opinião no jornal Expresso. A ex-deputada acusa, ainda, o partido de “pactuar com a extrema-direita, cavalgando populismos e confundindo política de imigração com a lei da nacionalidade”.
As preocupações com este aparente deslize ideológico não são novas. A ex-deputada apresentou, em 2024, uma moção ao congresso do PSD-Madeira para “excluir a possibilidade do PSD de encetar colaborações com a extrema-direita”. Rubina Berardo descreve os sociais-democratas como “um partido que, em vez de sanar as feridas entre diferentes grupos sociais (…) incita essas divergências, ao querer reabrir a caixa de Pandora da lei da greve”.
Também ataca o partido liderado por Luís Montenegro quanto à sua comunicação, que acusa de usar a memória de Sá Carneiro, fundador do PSD, como “recurso meramente decorativo, para citações em discursos, mas sem intenção de implementá-la”. “É por todos esses mesmos motivos que hoje me é impossível continuar num partido que se descaracteriza da sua matriz social-democrata“, remata no seu texto no Expresso, que saiu no mesmo dia em que o Chega anunciou um “princípio de entendimento” com o Governo sobre a imigração.
A ex-deputada tece, também, comentários sobre a campanha social-democrata nas últimas eleições, que diz ter sido baseada “na fabricação de uma dicotomia entre fazedores versus bloqueadores, questionando as mais básicas exigências de maior transparência no exercício de cargos públicos”.
No texto, Rubina Berardo culpa o PSD por “recusar documentação sob o pretexto de ‘deixar os políticos trabalhar’, vilipendiar atos eleitorais e o normal funcionamento da democracia“, e comenta que “isso é um filme que já se assistiu noutras latitudes, mas não se esperava de uma estrutura nacional”.
Recordando o seu percurso de vinte anos no PSD, Rubina Berardo lembra-se da sua campanha contra a influência e “intolerância” de Alberto João Jardim na Madeira, de onde é natural, e onde vê especiais “ausências de pluralismo, de respeito democrático e de tolerância“.
Dez anos depois, diz que a intolerância persiste “desde a forma como foram saneados apoiantes de listas concorrentes internas, até o mais recente episódio de profundo e abjeto desrespeito pela casa da Democracia Regional por parte de um governante do governo regional, oficialmente tolerado e justificado”.
Pontuando que a crítica e o debate plural se tornaram “delitos de opinião” no seio do partido, a ex-deputada despede-se do PSD ao dizer que “entre os vínculos a princípios humanistas e democráticos, e o vínculo partidário ao PSD, escolho, naturalmente, os primeiros”.
observador